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Sete Características da Arquitetura Brasileira
Sete Características da Arquitetura Brasileira

Quando pensamos em arquitetura de diversos lugares do mundo, automaticamente associamos esses nomes a algumas construções típicas. Alemanha, Suíça, Marrocos, Itália, Tailândia, China e Japão são exemplos de países onde o visitante normalmente observa um padrão característico.

Porém, quando se trata da arquitetura brasileira, essa uniformidade simplesmente não existe. Talvez alguns se sintam tentados a pensar que essa falta de um conjunto padrão de características revela uma identidade cultural fraca. Na verdade, o que acontece é justamente o contrário.

O Brasil tem uma história tão rica e diversificada, construída a partir da contribuição marcante de etnias distintas, que não poderíamos esperar nada que não fosse a expressão dessas influências na nossa língua, artes, música, culinária e, também, na arquitetura.

Portanto, se você está disposto a abrir a mente para conhecer e assimilar essas referências, chegou ao artigo certo. Vamos falar um pouquinho sobre todas as experiências incríveis que um amante da arquitetura pode ter se explorar os diferentes cantinhos do país.

Ficou curioso para se inspirar com toda essa riqueza? Continue a leitura!

Miscigenação: um traço do povo e da arquitetura brasileira

Não é novidade que o Brasil foi formado a partir da miscigenação. Contudo, mais do que pensar apenas em brancos, índios e negros, é preciso lembrar que esses três grupos principais eram, na verdade, uma reunião de muitos outros povos. Cada um tinha sua própria história, cultura e técnicas, incluindo as de construção.

Por isso, mesmo que no momento pós-descobrimento o branco português tenha se tornado o proprietário das terras e o comandante das construções, a arquitetura brasileira desse período não simplesmente reproduz a portuguesa. A prova disso é que, enquanto no país de origem eram comuns as casas minhotas, serranas, de xisto e palheiros, as edificações no Brasil são diferentes.

Um exemplo foi o surgimento do pau a pique, um tipo de construção chamado também de taipa de mão, de sopapo ou de sebe. Embora não haja um consenso sobre ela, especialistas afirmam que a técnica surgiu da confluência entre conhecimentos de portugueses, indígenas e africanos — justamente os povos que formaram a base do país.

No entanto, mesmo esse pensamento ainda é muito limitado. Quando falamos na influência do “branco europeu”, na verdade estamos nos referindo a uma série de povos: portugueses, franceses e holandeses (Rio de Janeiro e Nordeste), alemães (Sul e Espírito Santo), italianos (Centro-Sul) e depois os árabes e japoneses, entre tantos imigrantes. Isso sem contar o fato de que os grupos que tratamos de forma homogênea como indígenas e africanos também eram formados por etnias muito distintas.

O reflexo de toda essa miscigenação não poderia deixar de se manifestar na nossa arquitetura. Como se isso não bastasse, esse caldeirão cultural foi influenciado ainda pelas tendências que surgiram ao longo de quinhentos anos de transformações históricas e revolução tecnológica. O resultado é uma variedade imensa de construções surpreendentes. Que tal conhecer um pouco mais sobre elas?

Arquitetura brasileira: sete características interessantes

No outro tópico, explicamos que as nossas construções não têm uma uniformidade estética que faça com que elas sejam distinguidas como algo típico do nosso país. Portanto, as sete características da arquitetura brasileira listadas a seguir refletem justamente essa diversidade.

  1. Influências de todo canto do mundo

Como o Brasil recebeu diferentes povos, naturalmente sua arquitetura também foi alvo de todas essas influências. Portanto, da mesma forma que temos reflexos disso na língua, gastronomia e música, as edificações também sofreram impactos.

  1. Forte influência religiosa

Especialmente durante o período colonial, a Igreja Católica teve muito peso na arquitetura brasileira. O próprio modelo das cidades mais antigas tem origem em uma construção típica dessa organização religiosa — a redução jesuíta. Essa estrutura começou a ser criada aqui durante a tentativa portuguesa de impor o trabalho forçado aos índios.

A redução funcionava da seguinte maneira: havia uma construção principal, que era a residência dos padres, e uma capela. À sua frente, ficava uma grande área aberta onde os índios eram convocados para as reuniões. A praça era o centro da vida social e religiosa dessa população. Em volta dessas duas estruturas, os indígenas viviam em tendas.

Se você observar, várias cidades brasileiras se desenvolveram a partir desse modelo. Existe uma igreja matriz ou principal, com uma praça à frente. Por muito tempo, ela concentrou grande parte da vida social das comunidades. Finalmente, em volta dela se desenvolvem os estabelecimentos comerciais e são erguidas as casas para a população.

Outra prova da influência da igreja católica é o design brasileiro das igrejas protestantes e evangélicas. Diferentemente da Europa e dos Estados Unidos, aqui elas não costumam ter torres e sinos. Isso se deve ao fato de que, durante grande parte do período colonial, foi proibida a construção de qualquer outro templo que não fosse da instituição romana em nosso território.

Quando os ingleses (anglicanos) chegaram com D. João VI ao Brasil, ainda príncipe regente, em 1808, eles foram autorizados a realizar cultos. Porém, os prédios deveriam ser discretos, sem essas características distintivas.

  1. Mistura do clássico com o contemporâneo

Em muitas cidades brasileiras, o clássico convive com o contemporâneo sem nenhum conflito. Esse é o caso do centro de São Paulo, onde o visitante vê construções centenárias ao lado de prédios recentes. O Pateo do Collegio, por exemplo, foi fundado em 1554. Embora tenha sido reinaugurado em 1979, o projeto foi baseado na arquitetura típica do século XVII.

Por outro lado, temos na mesma região edifícios com uma arquitetura muito mais moderna e até contemporânea. Essa mistura pode ser observada nos seguintes locais:

  • Estilo art déco: Banco de São Paulo, 1938;
  • Arquitetura moderna estilizada: Edifício Triângulo, 1955, projetado por Oscar Niemeyer e com um painel de Di Cavalcanti;
  • Arquitetura eclética: Palacete Tereza Toledo Lara, 1910;
  • Estilo art nouveau: Edifício Guinle, 1916;
  • Arquitetura eclética: Edifício Sampaio Moreira, 1924;
  • Arquitetura eclética: Edifício Martinelli, 1929, o maior da América Latina quando foi construído;
  • Estilo neocolonial: Faculdade de Direito do Largo São Francisco, 1930.

Toda essa diversidade está em uma pequena área do centro antigo de São Paulo, mas poderíamos dar muitos outros exemplos nessa mesma cidade ou por todo o país.

  1. Forte influência do barroco e rococó

Durante o período colonial, muitos edifícios foram construídos de acordo com estilos que eram comuns na Europa. Por isso, vários desses prédios apresentam características barrocas ou neoclássicas.

O Neoclássico é visto com frequência em palácios, prédios e outras construções oficiais e urbanas. No entanto, no interior do Brasil, o Barroco e o Rococó tiveram uma grande influência.

O Barroco também é bastante identificado na arquitetura religiosa (sacra) do Brasil, em especial na segunda metade do século XVI. As igrejas católicas construídas têm características nitidamente relacionadas a esse estilo, sendo que ele criou espaço para o surgimento de grandes artistas nacionais. Um dos principais é o renomado mestre Aleijadinho.

A primeira região do Brasil a ser influenciada pelo barroco foi o Nordeste. Porém, especialistas afirmam que, até cerca de 1650, as fachadas e frontões eram as principais edificações que refletiam esse estilo. Já no século XVIII, essa situação mudou. Com a prosperidade conquistada com a exploração o ouro em Minas Gerais, as famílias começaram a investir no desenvolvimento da arquitetura para ostentar sua riqueza.

Embora as paredes das construções fossem feitas com uma técnica bem brasileira e bastante simples — taipa ou adobe — elas eram ornamentadas com uma riqueza de detalhes impressionante. Madeira, pedra-sabão e ouro foram usados para a confecção de estátuas e outros elementos decorativos.

Além disso, a pintura usava cores fortes e os telhados eram compostos por muitas águas, que são vários planos inclinados para escoamento da chuva. Isso significa que essas coberturas não têm o formato triangular tradicional, mas as telhas são dispostas em níveis e ângulos diferentes, tornando essa parte das contruções cheias de detalhes.

É por isso que essa região do país tem diversas construções nos estilos barroco e uma de suas variações, o rococó. O acervo preserva até hoje inúmeras edificações, especialmente igrejas, em cidades como Ouro Preto, São João del-Rei, Mariana, Diamantina e Santa Bárbara.

  1. Traços diferentes em cada região do país

A arquitetura de cada área apresenta traços relacionados à sua história de colonização e povoamento. Além disso, ela é influenciada por características geográficas que interferem nos hábitos e no estilo de vida das pessoas.

Em Minas Gerais, que foi o centro econômico do país no período da mineração, existem sinais claros desse momento histórico na arquitetura local. A Igreja Católica exercia um grande poder naquele tempo, e por isso é natural que seus templos se destaquem entre as construções mais importantes. Da mesma forma, cada região tem seus traços distintivos.

Alguns exemplos são as palafitas da região amazônica. Essas construções (em geral de madeira), elevadas a alguns metros do solo, evitam a inundação pelos rios na época das cheias. A arquitetura europeia, muito comum no Sul do Brasil, é uma consequência da colonização alemã. Trata-se da diversidade histórica refletida em estilos diferentes nas edificações.

  1. Permanência da natureza em meio à selva de pedra

Atualmente, 84% da população brasileira vive em cidades. Nove concentrações urbanas têm mais de 2,5 milhões de habitantes em cada uma. Apenas a região metropolitana de São Paulo tem 19 milhões de habitantes, seguida pela do Rio de Janeiro, com 11 milhões. Diante desse cenário, pode-se imaginar que essas localidades se transformaram em imensas selvas de pedra.

Porém, mesmo essas cidades densamente povoadas ainda abrem espaço para a permanência da natureza. Ela é vista não só em grandes parques, mas em muitos bairros e ruas. Em São Paulo, por exemplo, existem mais de 194 milhões de metros quadrados em áreas verdes. Esse número corresponde a 16m² por habitante, o que ultrapassa o mínimo recomendado pela ONU.

  1. Renovação constante nas preferências do público

Apesar da convivência com esse passado, a arquitetura brasileira não se prende a ele. O público continua aberto a tendências e tecnologias e aceita a incorporação de novos edifícios à paisagem urbana. Assim, ela se renova constantemente e dá espaço para cidades cada vez mais diversificadas e surpreendentes.

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