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A arquitetura bike-friendly de Copenhague

O futuro da mobilidade tem duas rodas a arquitetura bike-friendly de Copenhague

Tecnólogos ambiciosos afirmam há décadas que os carros autônomos são o futuro. No entanto, nos últimos anos, a maior revolução veio dos veículos de duas rodas, não de quatro. Alimentados pela pandemia, aumento dos preços do petróleo, mudanças climáticas e o desejo de estilos de vida mais saudáveis, vivemos agora no meio de um renascimento da bicicleta.

Mas para entender como chegamos até aqui, é fundamental olhar para trás. Quando o automóvel foi difundido no início dos anos 1900, rapidamente se tornou um símbolo de progresso com tudo o que ele implicava: velocidade, privatização e segregação. Adotando uma abordagem centrada no carro, os urbanistas tiveram que reorganizar cidades inteiras para separar o tráfego. Os carros ocuparam os espaços públicos que costumavam abrigar a vida dinâmica da cidade e estacionamentos, rodovias e postos de gasolina tornaram-se paisagens comuns. Os pedestres que antes dominavam as ruas foram conduzidos para as calçadas e as crianças relegadas a playgrounds cercados. Ironicamente, as cidades estavam sendo projetadas para carros em vez de seres humanos.

No entanto, uma grande mudança de paradigma alterou a percepção de como devemos nos movimentar e viver nas cidades – e, portanto, de como devemos projetá-las. A pirâmide de tráfego literalmente se inverteu, priorizando modos de transporte sustentáveis e que usam o espaço de maneira mais eficiente em vez de veículos motorizados contaminantes. Os pedestres retomaram o espaço público e as bicicletas os acompanharam. Como resultado, cada vez mais cidades estão procurando incentivar o ciclismo e tornar suas ruas bike-friendly; enquanto algumas estão vários passos atrás, outras assumiram um papel de liderança. Copenhague, conhecida como uma das cidades mais felizes do mundo, foi pioneira no assunto. Os seus residentes não andam de bicicleta porque as preferem mais do que outras formas de locomoção, mas sim porque é uma forma rápida, segura e fácil de se deslocar nas suas rotinas diárias.

 

Uma das cidades mais bike-friendly do mundo

Copenhague foi nomeada a Capital Mundial da Arquitetura UNESCO-UIA em 2023 e sediará o Congresso Mundial de Arquitetos UIA devido ao seu forte legado e liderança mundial em arquitetura e desenvolvimento urbano inovador. Isso inclui, é claro, os avanços da cidade na direção de um transporte sustentável, principalmente com bicletas. A capital dinamarquesa oferece uma variedade de condições favoráveis para o ciclismo, entre elas terreno plano, proximidade urbana densa e distâncias curtas. Mas o que realmente o destaca é um bom design. O pensamento criativo de arquitetos – junto com altos investimentos em infraestrutura – é o que transformou Copenhague em uma das cidades maisbike-friendly do mundo, o que exigiu a adoção de uma série de medidas: bicicletários bem pensados, ciclovias amplas, pontes sem carros, áreas livres para pedalar livremente e redes de bicicletas conectadas a espaços públicos e privados.

Enquanto as cidades centradas no carro tendem a simplesmente construir mais ciclovias para atender à demanda, Copenhague presta atenção à qualidade e não apenas à quantidade. Os arquitetos projetam a infraestrutura necessária para que os moradores possam se deslocar confortavelmente e, ao mesmo tempo, apreciar belas paisagens e participar da vida urbana. Em última análise, essas transformações urbanas e arquitetônicas favoráveis às bicicletas encorajaram as pessoas a usar muito menos seus carros; tanto que o número de bicicletas supera em muito o de carros e de pessoas. De mãos dadas com a sustentabilidade e um estilo de vida saudável, o fenômeno das duas rodas mudou completamente a forma como a cidade e seus edifícios são projetados, e também como ela continuará evoluindo e sendo redescoberta.

Nenhuma cidade que incentiva o ciclismo pode funcionar sem estacionamentos adequados. E em Copenhague, os arquitetos encontraram maneiras criativas e inovadoras de integrá-los sem interromper a vida urbana. O estacionamento situado na praça pública Karen Blixens Plads é um excelente exemplo. Localizada entre a Universidade de Copenhague e a Biblioteca Real Dinamarquesa, a praça é uma das maiores da capital e abriga atividades multifuncionais. Partes da superfície ondulada são projetadas como pequenas colinas que atendem a diferentes funções, incluindo estacionamento de bicicletas de alta capacidade com espaço para 2.000 bicicletas. Dessa forma, o design prático e divertido facilita o uso da bicicleta sem interferir muito no espaço livre acima dela.

Outra forma de consolidar a cultura da bicicleta é mesclar os edifícios – especialmente os hotspots que atraem muito tráfego – com as redes de bicicletas. A premiada torre Maersk, por exemplo, faz isso incorporando uma ciclovia flutuante em zigue-zague e um caminho de pedestres ao seu redor, permitindo o acesso do público e conectando o campus com as ruas ao redor. Seguindo uma forma orgânica, a plataforma ondulada e íngreme, projetada pelos arquitetos paisagistas da SLA, permite que os usuários se aproximem da torre, proporcionando vistas das áreas verdes próximas e das ruas da cidade. A ciclovia alimenta uma espécie de porão de bicicletas, onde o portão se abre automaticamente quando um ciclista se aproxima. Em suma, essas medidas favoráveis à bicicleta incentivam os cidadãos a experimentar a arquitetura com profunda intimidade, uma qualidade inerente às cidades agitadas.

Uma cidade que incentiva o ciclismo claramente não se constrói sozinha. Requer interesse, investimento, profundo conhecimento dos padrões urbanos e, acima de tudo, uma boa arquitetura, inteligente e criativa. Copenhague abraça graciosamente esses critérios, provando ao mundo que o futuro da mobilidade sustentável pode de fato ter duas rodas e não quatro.

 

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